Borderline - Parte II

Mercado Sali.

Istambul é, sem qualquer dúvida, uma cidade profundamente marcada pela multiculturalidade. Não, mais do que isso. Istambul é mais do que uma simples mistura de culturas. Basta percorrermos as suas ruas para a vivermos, para a sentirmos. Istambul é uma cidade que invade e se entranha na alma das pessoas, sem pedir licença e sem aviso prévio, transformando esta “multiculturalidade” num aglomerado único, em que a individualidade da cidade se impõe à individualidade de cada um.

Mas Istambul é também uma cidade que vive a dois ritmos completamente distintos, onde coabitam diferentes realidades. Apesar de a alma de Istambul ser omnipresente, existem várias comunidades e bairros quase fechados, que chegam mesmo a ser hostis a estranhos. O mais extraordinário é quando todas estas definições se aplicam a um único bairro. Apesar de Tarlabasi ser uma comunidade extremamente fechada, estranhamente, é também um bairro repleto de diferentes culturas que aprenderam ou que são obrigadas a partilhar o mesmo espaço.

Uma vez mais, o meu prédio não poderia ser melhor exemplo deste peculiar fenómeno: para além da excepcional família curda, vivíamos ainda com uma família de japoneses, Julie, uma empresária francesa, e Michael, um professor britânico homossexual. Obviamente, nenhum destes vivia em Tarlabasi com o mesmo à vontade que os nossos vizinhos curdos. Da família de japoneses, só o pai saía de casa para ir trabalhar (nunca cheguei a ver a mãe, pois nunca saía nem abria a porta a estranhos sem o marido estar presente). Julie, a empresária francesa, nunca passava muito tempo em Istambul por causa dos negócios, mas visitava-nos após cada regresso. Penso que nunca se chegou a sentir completamente em casa nesta cidade e que falar um pouco connosco tornava a situação mais fácil. Partiu no primeiro dia do ano, deixando-nos uma garrafa de champanhe, e nunca mais regressou. Michael é o típico britânico, extremamente educado e organizado e que se enquadra no contexto turco, claramente, como um peixe fora de água. Nunca conseguimos perceber porque escolheu um país tão conservador para ensinar. Renovou de tal forma o seu apartamento que ninguém conseguiria encontrar uma única semelhança com o nosso e, muito menos, com o da família curda. Não, estou uma vez mais enganada. Houve algo que Michael não pôde mudar, mesmo não combinando em nada com o novo estilo e com a decoração moderna do seu apartamento, e que continua e continuará a ser igual para todos os habitantes deste prédio em Tarlabasi e de muitos outros prédios de Istambul: o “buraco”.

Enclaves

Em Istambul, "o buraco” é um fenómeno tão significativo que Orhan Pamuk, em O Livro Negro, lhe dedica um capítulo inteiro[1]: “Les jours où toute la famille allait dîner à l’étage du grand-père, la bonne utilisait le puits d’aération pour annoncer, en criant de tout sa voix, à ceux de l’étage d’en bas et aussi à tous les locataires de l’immeuble voisin, que le dîner était prêt. Les soirs où ils n’y avaient pas été conviés, la mère et le fils, relégués au dernier étage, lançaient de temps à temps un regard par la fenêtre, qu’ils tenaient ouverte, de leur cuisine, pour épier les plats du menu et les intrigues d’en bas.", p. 332.

De facto, ainda não sei ao certo com que finalidade, talvez para depósito do lixo, mas, nesta cidade, muitos prédios foram construídos com um buraco quadrangular no centro. Um buraco vertical, de cerca de três m2 de largura, cuja única abertura para o exterior se situa no topo do prédio, e para o qual todos os apartamentos dispõem de duas ou mais janelas. Apesar de actualmente não ter qualquer função específica, a quantidade de janelas concentradas num espaço tão fechado (no nosso apartamento, por exemplo, tanto a cozinha, como a sala e um dos quartos só tinham vista para “o buraco”) leva a que este, necessariamente, faça parte do dia-a-dia e da vida de cada apartamento e de toda a comunidade do prédio. É através do buraco que as mães gritam pelos filhos para que venham almoçar ou jantar, é para o buraco que inexplicavelmente alguém atira água de vez em quando. É no buraco que vive uma larga família de ratazanas, que passamos horas a observar, num misto de terror e de fascinação.

Para além do “buraco”, este prédio possui ainda outros dois espaços comuns: a cave, onde penso que, exceptuando todos os gatos da vizinhança, ninguém entra há anos, dado o odor pútrido e nauseabundo que daí provem, e o local onde passei várias tardes encantadoras, o terraço. Embora seja um local praticamente esquecido, bastante sujo e a precisar urgentemente de obras, a velha cadeira de baloiço e a impressionante vista, de um lado o aqueduto e o Bósforo, do outro Tarlabasi, fazem com que este terraço se torne num local mágico, onde, perante a dimensão da cidade, qualquer pessoa se sente tão pequena como uma formiga, mas extremamente privilegiada, simplesmente por ter a oportunidade de observar Istambul.

Obviamente, não sei o que o futuro me reserva, mas penso que o dia-a-dia no nosso pequeno apartamento em Tarlabasi foi e continuará a ser um dos períodos mais marcantes da minha vida. Viver em Tarlabasi é viver em constante estado de alerta, sem deixar de se ser surpreendido todos os dias. É estar-se sempre prevenido, sem deixar de se ser apanhado desprevenido.

Ainda hoje penso nos pobres homens que trabalham dia e noite num buraco (um outro tipo de buraco) do apartamento da frente, onde acumulam todo o tipo de sucata, móveis e velharias. Uma cave escura e muito suja, na qual, por vezes, só se vêem os seus pequenos olhos a brilhar. É impossível ficar-se indiferente a estas pobres vidas que se esgotam ao ritmo do vai e vem de objectos alheios. Todos os dias, a chegada e a partida de mercadorias provoca alguma azáfama no bairro, sobretudo quando se descobrem pequenas relíquias, como uma antiga máquina de escrever, que tanto apaixonou um dos meus colegas de casa, um jornalista espanhol.

Esta cave, “o buraco da frente”, como lhe chamávamos, é um local misterioso e difícil de compreender, como muitos outros em Istambul. Pela nossa observação diária, os objectos e materiais que chegam são muito mais do que os que partem. Todos os dias, os “homens da cave” carregam tudo e mais alguma coisa para este local. Para mim e para muitos outros habitantes do bairro, esta cave é como um buraco sem fim, labiríntico, constituído por diversas galerias, repletas de relíquias e tesouros antigos. Curiosamente, esta ideia é um pensamento comum relativamente a Istambul. Dada a sua riqueza histórica, muitos são os mistérios que assombram esta cidade e várias são as lendas e histórias sobre túneis e catacumbas que percorrem e interligam o coração desta cidade. Apesar de tudo, não é difícil de se acreditar nesta possibilidade, sobretudo quando é do conhecimento geral que sempre que se abre um buraco na zona histórica da cidade se encontram novos artefactos e relíquias de diferentes períodos. Tendo em conta que Istambul é uma cidade conhecida pela sua colossal riqueza histórica, é perturbante imaginar tudo o que se pode encontrar soterrado sob as suas ruas, os seus monumentos, as casas, os mercados… Como exemplifica a edição de 27 de Maio de 2008 do jornal Le Monde (p. 3), “o túnel ferroviário que ligará daqui a uns anos as duas margens de Istambul, passando por debaixo do Bósforo, permitiu a descoberta de centenas de objectos datando da época bizantina, mas também da época otomana, e de diversos pontos históricos de grande importância. Vestígios do neolítico, um porto bizantino, um pedaço de 50 metros das muralhas de Constantinopla, nunca antes encontradas nesta área, já emergiram no local. Desde há quatro anos que mais de 70 arqueólogos e de 700 trabalhadores estão em actividade dia e noite.”. E, tudo isto, no centro de Istambul.

Divisão

No entanto, não é com o curioso agregado de roedores que habita o buraco que termino a lista de moradores do nosso prédio. Embora tenha sido a família curda quem mais me marcou, deixei para o fim um grupo que é, sem dúvida, o mais relevante: no primeiro andar do prédio encontra-se situada a sede do DTP, o Partido Sociedade Democrática, um partido de esquerda, pró-curdo, isto é, que defende a criação de um Estado curdo, independente, no Curdistão (região dividida nas fronteiras da Turquia, do Irão, do Iraque e da Síria).

Apesar de todos termos bem noção que qualquer movimento pró-curdo é regularmente alvo de represálias e de atentados, nunca tive grandes preocupações a nível de segurança, até ao dia em que acordei às quatro horas da madrugada com um grande estrondo. Ainda tive tempo para pensar na possibilidade de estar a sonhar, mas imediatamente comecei a ouvir vidros a partir e vozes perturbadas. Apesar de Istambul não ser uma cidade nada silenciosa, não tive dúvidas de que algo grave se tinha passado e decidi acordar toda a gente, just in case. Saía fumo pelas janelas do primeiro andar e a rua estava repleta de pessoas assustadas. Os bombeiros não tardaram a chegar e o rumor de que o escritório do DTP tinha sido alvo de um atentado com um cocktail molotov espalhou-se por todo o bairro ainda mais rapidamente.

Evidentemente, ninguém pregou olho nessa noite e a possibilidade de novos atentados assombrou muita gente. Fui trabalhar na manhã seguinte e mal pude acreditar no que vi quando regressei a casa. Em vez de começarem a actuar de forma mais discreta ou de planearem retaliações, os membros do DTP decidiram responder ao atentado da maneira mais aterrorizadora que poderiam ter encontrado: organizando uma enorme festa e convidando todos os curdos do bairro.

No nosso apartamento, a semana seguinte foi de pânico constante. O estado de alerta geral traduziu-se pelo silêncio e, ao mínimo barulho, os nossos corações disparavam e o sobressalto invadia-nos. Para piorar a situação, o prédio não tinha caixas de correio e os envelopes ou encomendas eram deixados no rés-do-chão até que o destinatário os visse. Durante várias semanas não nos saiu do pensamento que, qualquer que fosse a resposta à provocação, seria certamente mais grave que um cocktail molotov. Ainda hoje me custa a acreditar que a festa não provocou retaliações. Ainda hoje não sei como é que os opositores engoliram a afronta e a ousadia mas sinto-me profundamente agradecida por tal ter acontecido.

É importante lembrar que esta é uma questão extremamente sensível para a Turquia, país onde existe uma comunidade de 11 a 15 milhões de curdos, considerada pelo governo como uma ameaça à segurança nacional do país. A palavra “genocídio” é tabu e completamente condenada pelo governo, mas não é difícil de a encontrar no olhar de cada turco. Aziz, um colega de faculdade, nunca conseguiu deixar de se sentir assombrado por este fantasma e contou-me que planeava fugir para a América do Sul, para escapar ao serviço militar. Sinan, um outro colega e uma pessoa extremamente simpática e trabalhadora, esteve preso durante algum tempo. Nunca me contou porquê, mas corria o rumor de que foi condenado por participar numa manifestação pró-curda. Desde sempre que os curdos têm resistido às tentativas de assimilação forçada por parte do governo turco. Mesmo após a supressão da sua língua e a abolição das palavras “curdo” e “Curdistão” dos dicionários e décadas de incentivo ao uso do turco, a maior parte continua a falar a língua curda. E este é um facto que em Tarlabasi não passa despercebido.

Cidade karisik [2]

Para além do vaivém das mercadorias do “buraco da frente” e dos casamentos ciganos, eventos que provocam o caos durante quatro dias no mínimo, a azáfama é uma constante na nossa rua: os miúdos que jogam à bola e sonham em vir a ser grandes estrelas do futebol turco, as miúdas que jogam à macaca e que olham com curiosidade os estrangeiros, as mulheres que passam a tarde sentadas nas escadas dos prédios, a conversar e a observar a vizinhança, ao mesmo tempo que preparam os vegetais para o jantar… E que, pelo menos uma vez por mês, trazem as suas belas carpetes para a rua, onde as lavam e esfregam, sem se preocuparem com o trânsito ou com quem passa.

Neste mesmo espaço, é impossível não se reparar também na enorme quantidade de gatos que vagueiam pelas ruas, desfrutando do sol e da simpatia de quem passa. Apesar de não existir qualquer explicação lógica, os turcos têm uma relação bastante próxima com os gatos vadios, permitindo que estes ocupem qualquer espaço inabitado e alimentando-os regularmente. Na rua, várias vezes me deparei com taças de ração para gato e, surpreendentemente, sobretudo nos bairros mais pobres. Para além disso, numa cidade onde a circulação rodoviária é gerida pela lei do mais forte e onde é extremamente difícil ser-se um peão ou ir-se a algum lado de bicicleta, cheguei a ver o trânsito parar por completo apenas para que um gato pudesse atravessar a rua. Ninguém sabe explicar este fenómeno, e há mesmo quem o negue, mas a verdade é que, na Turquia, os gatos beneficiam de um estatuto bastante privilegiado.

Apesar de Istambul se “modernizar” e “ocidentalizar” um pouco mais a cada dia que passa, a vida na maior parte dos bairros ainda gira exclusivamente em torno do comércio local e dos vendedores ambulantes. Na minha rua, por exemplo, todos os dias por volta da hora em que terminam as aulas, ouve-se apregoar ao longe “SAHLEP, SAHLEP, SAHLEP!!!” (uma bebida quente feita à base de raízes de orquídeas). A voz vai-se aproximando, percorrendo cada viela, repetindo o pregão incansavelmente, até se afastar e deixar de se ouvir por completo.

Para além do “negócio do buraco da frente”, existe também um vendedor de frutos ambulante (que raramente sai do mesmo sítio) e um outro local bizarro, uma loja inicialmente repleta de ovos praticamente até ao tecto, actualmente transformada num atelier de exposição de fotografias. No entanto, o coração do comércio local encontra-se numa pequena loja típica, onde, como na maior parte das lojas turcas, se pode encontrar e comprar de tudo. O mais curioso é que esta loja está aberta 24 horas por dia e é gerida apenas por dois irmãos curdos, que se revezam, dormindo no camião estacionado do outro lado da rua. Neste tipo de lojas, algo que imediatamente se descobre é que a palavra é mais importante do que o dinheiro. Por exemplo, apesar de cada fruto ter um preço diferente, ao quilo, na altura de pagar, todos os sacos são pesados ao mesmo tempo e o preço total é calculado de forma quase aleatória, sem recurso a qualquer instrumento de cálculo. Embora difícil de se compreender e de se aceitar, o comércio turco baseia-se sobretudo na interacção imediata entre o vendedor e o cliente. O vendedor pode estipular um preço com uma margem de mais de 70% de lucro ou de apenas 5%, por exemplo. Sinceramente, à excepção de quando se espera que o cliente regateie o preço, nunca consegui decifrar os critérios que levam a um preço ou ao outro.

No entanto, apesar de todas as dificuldades de comunicação, acabei por chegar à conclusão de que, para mim, um dos maiores problemas de viver em Tarlabasi, não foi o convívio com a população local, mas sim os preconceitos existentes em relação a este bairro. Por exemplo, Istambul é uma cidade cujas reservas de água potável são insuficientes, por isso, verificam-se frequentemente cortes temporários no abastecimento de alguns bairros, sobretudo no Verão. Tendo em conta a reputação de Tarlabasi, obviamente, este é o primeiro bairro a sofrer com este problema. Há bens essenciais que tomamos como adquiridos e cujo valor só descobrimos em caso de verdadeira necessidade. Após três dias sem uma única gota de água a correr pelos canos, a meio de um Verão abrasador e extremamente seco, saí de casa pela manhãzinha, entrei num dos melhores e mais modernos cafés da Istiklal, Mado, pedi um pequeno-almoço e ocupei a casa de banho durante meia hora. Nem senti a falta de um chuveiro, o lavatório chegou perfeitamente para me voltar a sentir uma pessoa de novo. Normalmente, quando pensamos em falta de água, a primeira ideia que nos passa pela cabeça é sede. Neste caso, dispondo de água engarrafada para beber e cozinhar, o grande problema foi viver com mais cinco pessoas e partilharmos todas a mesma casa de banho.

Todas as minorias

Não posso concluir este modesto retrato do bairro turco onde vivi durante cerca de um ano, sem fazer referência a um outro fenómeno que bastante me intriga, ainda hoje, sobre uma outra comunidade que procurou abrigo em Tarlabasi. À noite, quando já não se vêem mulheres de véu nem crianças, as ruas deste bairro invadem-se de travestis. Estes constituem, sem qualquer dúvida, uma grande comunidade e muitos turcos e mesmo estrangeiros consideram Tarlabasi como o centro da procura/venda de sexo em Istambul, cidade onde existem cerca de 20 mil travestis. Como refere Deniz Kandiyoti no artigo “Transsexuals and the Urban Landscape in Istanbul”[3], em Tarlabasi, os transexuais são membros de uma cultura local com consciência própria, que desenvolveu o seu próprio vocabulário. Até 1996, os travestis constituíam uma comunidade relativamente estável, baseada numa rotina bem estabelecida de protecção e subornos. No entanto, nesse ano, Istambul recebeu a conferência Nações Unidas Habitat II, "A Cimeira da Cidade", o que levou a uma massiva operação de limpeza de vários bairros, atingindo profundamente a comunidade transexual.

Ainda segundo Kandiyoti, poucos grupos sociais receberam tanta visibilidade e atenção mediática como os transexuais (de homem para mulher) receberam na Turquia nestes últimos anos: “parte da fascinação em torno dos transexuais está, sem dúvida, relacionada com o desconforto que causam na moralidade e nos conceitos dominantes sobre sexo e identidade. Numa sociedade que preza a masculinidade e que possui diversos tabus em relação à expressão da sexualidade feminina, os travestis ostentam com uma vaidade agressiva o estilo feminino e habitam geralmente um submundo sombrio de diversão e de prostituição”.

É de salientar que, contrariamente à maior parte dos países islâmicos, a Turquia é um país cuja legislação permite cirurgias de mudança de sexo e relações homossexuais. Em 1988, foi promulgada uma lei que legaliza a mudança de sexo através de cirurgia, baseada no precedente de Bülen Ersoy, curiosamente uma das cantoras mais adoradas da Turquia, que apelou em tribunal o reconhecimento da sua identidade como mulher, após uma operação de mudança de sexo, em Londres.

Apesar de Tarlabasi continuar a ser o bairro das minorias e dos indesejáveis, as frequentes perseguições e a pressão constante por parte das autoridades, fazem-me pensar que estes dias podem estar a chegar ao fim. Existe uma nova elite que está a redescobrir a antiga beleza de Istambul e o seu legado histórico, do qual faz parte Tarlabasi. No passado, as antigas casas de madeira, do estilo otomano, foram negligenciadas e, por vezes, demolidas ou queimadas (o que é excepcionalmente descrito por Orhan Pamuk em Istanbul: Memórias de uma cidade), para darem lugar a estradas ou blocos de apartamentos “rentáveis mas sem alma”. Actualmente, o boom do aumento do valor das propriedades já se começou a sentir até neste bairro (o que provavelmente levou a que fosse lembrado pelo governo), o que acabará por levar a um novo êxodo, provavelmente para os subúrbios da cidade. No fundo, o verdadeiro problema apenas será geograficamente afastado.

[1] Éditions Gallimard, 1995.
[2] Karisik (karışık): mista, misturada.
[3] Edição 206 do Middle East Report.

Artigo publicado no Aqui & Agora.