Assalto

(...) Afinal a João tinha tido alguma sorte. Não viram a bolsa pequena. Máquina, telemóvel, leitor MP3, passaporte, bilhete de avião, tudo na bolsa. Já eu não me podia gabar do mesmo. Fotografia: máquina principal, com a lente principal montada, máquina compacta, cartões de memória e respectivos conteúdos, também valiosos, baterias, e bolsas respectivas. Bolsa aventura, com binóculos, bússola, canivete, lanterna. Passaporte e documentos da mota. O próprio saco de depósito. O impermeável. Os mapas, tantos! A agenda, céus, a agenda com infinita informação preciosa, e até cartões e contactos de convites para estadia pelo caminho. A carteira, sem dinheiro, que felizmente não tínhamos levantado. 50 dólares se tanto. Um cartão visa electron, já cancelado. Na mochila, muita roupa, um saco cama, compras quase a caminho de Portugal, bonitas prendas, e que pena as estatuetas? Que pena as toalhas. Que pena as fotografias e os vídeos. Mas, acima de tudo, que pena este sentimento de pena, de impotência, de indignação e ao mesmo tempo medo. (...)

Por Gonçalo Mata, na Visão.

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